domingo, 17 de abril de 2011

Escravidão & Abolição: Lideranças prestigiam Hélvio Gomes Cordeiro em lançamento de livro na ABL

Foi um lançamento em grande estilo. Um clina de resgate histórico tomou conta da noite de sexta-feira, na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Centro do Rio, durante o lançamento do livro: “Escravidão & Abolição”, de Hélvio Gomes. O evento foi organizado pelo MONER – Movimento Negro Republicano. Enquanto aguardavam a vez na fila para cumprimentar o au-tor, ministro, autoridades públicas, diplomacia, corpo diplomático e lideran-ças do movimento negro elogiavam a iniciativa.

Nayt Jr – Presidente do MONER – Estar na ABL é muito bom. É um marco, pois segundo o diretor cultural desta casa é a primeira vez que se lança um livro de um escritor do interior do estado negro, ainda mais sobre a temática negra. E mais gostoso ainda é saber que o MONER tem o quinhão de satisfação no sucesso desse evento.” De-clarou.

O município de Campos teve a maior concetração de negros do Brasil. Che-gando a ter uma média de 10 negros para cada branco e essa história esta-va sendo perdidos. Com o livro, o autor e a Palmares visam rememorar al-guns personagens, que foram importantes na luta de resistência dos ne-gros, como “Carukango”, (primeiro livro do Helvio) quilombo que existiu em Macaé, tão importante quanto o Quilombo dos Palmares e agora “Escra-vidão & bolição.”

Jorge Luiz Pereira dos Santos – Presidente da Fundação Municipal Zumbi dos Palmares, comemora o grande momento. Ele também representou a prefeita Rosinha Garotinho – “Desde 2009, trabalhamos no sentido de resgatar uma parte de nossa história que foi perdida,” Disse.

O que aconteceu com o negro em Campos a partir do momento que acabou a escravidão? Esta história ninguém conta. Morreu. É uma lacuna. A Palma-res trabalha no sentido de divulgar o que aconteceu. A saga do negro é de luta e de resistência. O que se espera é que, aos poucos os fatos sejam transformando em livros para que chegue ao conhecimento de todos.

Eloi Ferreira de Araújo – Presidente da Fundação Cultural Palmares – “Estamos todos irmanados e ombreados nesta causa, para que a juventude conheça toda a nossa história. Trazemos a baila os 400 anos da violência da escravidão que nos impuzeram. Que neste encontro do passado com o pre-sente possamos construir um futuro melhor. É o que o momento nos inspira a pensar.” Afirmou.

O livro, que ilumina a questão literária negra no Brasil, fala de Campços dos Goytacazes, aborda a escravidão, os movimentos abolicionistas nas regiões Norte e Nordeste do Estado do Rio e da Abolição da Escravatura no Brasil. Relata também sobre a igualdade racial, questionando, inclusive, o sistema de cotas para negros nas universidades públicas, além da desigualdade em relação ao mercado de trabalho.


Benedito Sérgio de Almeida Alves – Representante da Regional da Palmares no Rio de Janeiro -  “Eu vejo este lançamento com muita alegria e muita es-perança. O tema escravidão e abolição tráz de volta uma discussão que o Brasil foge há mais de 100 anos. A meu ver o assunto é a causa principal dos maiores problemas que nós vivemos.” Prosseguiu.

Na entrada da ABL, para recepcionar os convidados, um grupo de modelos das comunidades do Complexo do Alemão, Engenho da Rainha e Morro do Juramento, Rio. O livro, patrocinado pela Prefeitura de Campos, editado pela Fundação Municipal Zumbi dos Palmares e abraçado pelo MONER é resultado de dois anos de pesquisas, desenvolvidas pelo Autor, o Professor e Pesquisador Hélvio Cordeiro.

Carlos Alberto Caó Oliveira dos Santos - Autor da Lei CAÒ – 1985. LEI Nº 7.437, de 20 de dezembro de 1985, que inclui, entre as contravenções penais, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil, dando nova redação à Lei nº 1.390, de 3 de julho de 1951 - Lei Afonso Arinos – “Todo lançamento dessa natureza que revive a história do negro no Brasil é muito importante. Ele nos enriquece e faz com que nós pensemos e repensemos profundamente quem fez este país? Fomos nós!” Falou.

O trabalho do livro foi baseado em entrevistas nos distritos de Rio Preto, Imbé e de Pedra Lisa, com grandes fazendeiros da região, que faliram de-pois que libertaram seus escravos. A pesquisa foi feita na Casa de Cultura José Henrique de Carlos Sá, em São João da Barra.

Helvécio Gomes Cordeiro – “O lançamento é um excelente passo para fazer a evolução de um trabalho de pesquisa e para ampliar os conhecimentos sobre como se deu a escravidão em nossa região”. Enfatizou.

O dedobramento se deu no Arquivo Público Municipal de Campos; na Biblio-teca Municipal Nilo Peçanha, da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, de Campos dos Goytacazes; no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, e na Biblioteca José do Patrocínio, da Fundação Municipal Zumbi dos Palmares.

João Calros Araújo – Movimento de Ação e Reflexão Martin Luther King. “Este evento é importantíssimo, pois vem trazer contribuição para a luta de nossa raça. Estão de parabéns o autor e todas as instituições, que apoiando o lançamento de mais uma obra prima do nosso povo. Temos jovens, adul-tos e até idosos que escrevem, que tem seus livros e suas poesias enga-vetadas. É necessário que nossa história seja conhecida por todos, para, quem sabe, amenizarmos a desigualdade racial, o preconceito e o racismo.” Desabafou.

A ABL, fundada por um negro, Machado de Assis, nascido no Morro da Providência. E surpreendentemente ele é o único em toda a história da aca-demia. A casa tem o destaque histórico de ser o bastião literário Brasileiro. A instituição é a guardiã dos saberes que envolvem a língua portuguesa falada no Brasil e nos países ex-colônias de Portugal. O primeiro romance brasileiro editado também é de outro negro, também carioca, Teixeira e Souza, nascido em Cabo Frio, que faria 200 anos em 2012.

Celso de Souza Silva – Instituto Nacional de Colinização e Reforma Agrária – INCRA – “Acho o lançamento do livro do Hélvio de grande valia, porque a historia dos negros em Campos é tudo e foi esquecida. Parabenizo à todos nós por este avanço, principalmente a comunidade negra do norte do es-tado.” Explicou.

Foi lançado na mesma noite e local o livro: “Culinária Afro”. As receitas foram resultado de um curso, com duração de três meses, na cidade de Campos, que reuniu 80 alunos divididos em dez turmas, nos turnos da manhã, tarde e noite.

Antonio Gonçalves – Presidente da ESBL Canários das Laranjeiras – Está sendo muito gratificante para nós, do movimento negro, a consagração des-se evento, de primeira categoria. A confraternização de nosso povo está acontecendo.Quero abraçar o Hélvio por seu trabalho maravilhoso, e a Maria Moura, que estão desenvolvendo atravez de seus livros.” Revelou.

A idéia de um curso de culinária afro surgiu da Fundação Palmares, pela necesidade de valorização e do resgate de uma das mais importantes for-mas de manifestação cultural, que foi um legado trazido pelos negros afri-canos para o Brasil, “ comida”. O curso foi um sucesso e contou com aulas teóricas e práticas, ensinadas por Maria Moura e Ciça.

Maria Moura – Autora do livro – “Tem a continuidade das receitas que falo de sociologia. Ao mesmo tempo em que falo sobre a comida, eu falo sobre a cultura afro brasileira, em sua tradição oral, de nosso povo quando aqui chegou. No final do livro eu fiz um depoimento aos alunos, procurando fazer uma avaliação dos dois lados. O Brasil que nós queremos é aonde as mulheres tenham muitas atividades. Entre elas essa a de mulher de ganho e a mulher de venda que é nossa tradição.” Finalizou.

A culinária desse livro é diferente. Ela é oriunda das senzalas e das cozinhas das mulheres da roça e dos canaviais. Não é um tipo de receita como a que se vê hoje em dia. A comida era feita por mulheres do interior, como nossas avós e nossas tias. Essas receitas têm o sentido cultural, pois na mesma hora em que fala da culinária da Bahia, por exemplo, da Nigéria (África).

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