A profissionalização do carnaval do Rio ultrapassou os limites dos barracões e chegou aos componentes. Para muitos, o que era diversão passou a ser um trabalho devido à demanda crescente por shows das escolas de samba em outros estados e no exterior.
As agremiações não revelam o valor que movimentam com o "carnaval exportação", mas, baseado em informações de bastidores sobre os contratos, o 24 horas online calculou que esse mercado movimenta pelo menos R$ 6 milhões por ano apenas nas 12 escolas do Grupo Especial.
Boa parte cobre os cachês dos artistas, mas há escolas que usam parte do dinheiro para financiar o carnaval, como a Unidos da Tijuca. O interesse pelos shows levou escolas como Beija-Flor, Mangueira, Unidos da Tijuca e Mocidade Independente de Padre Miguel a buscarem maneiras de cativar novos clientes.
Algumas mantêm cadastros atualizados de passistas e ritmistas com disponibilidade para viajar; outras contrataram coreógrafos apenas para planejar as apresentações. Para o produtor cultural e cineasta Luiz Carlos Prestes Filho, que estuda a geração de riqueza pelo carnaval, as escolas seguem a lógica do mercado:
- Elas têm uma marca de valor a ser explorada. É o que a Disney faz ao promover shows fora dos Estados Unidos. O próprio mercado brasileiro de entretenimento já percebeu a importância dessa divulgação em outros projetos culturais. É o caso da franquia Rock in Rio: vamos para a quarta edição na cidade. Mas em Portugal e Espanha já foram seis edições.
O faturamento não é homogêneo. A vitória ou uma boa colocação atrai holofotes, prestígio e contratos. Um dos filões mais cobiçados são os shows corporativos, que podem render mais de R$ 1 milhão por ano a uma única agremiação.
Mas as escolas que ficam na parte de baixo da classificação geralmente não conseguem mais do que R$ 100 mil ao ano, dinheiro que acaba rateado entre os artistas. Caso da Unidos do Porto da Pedra, por exemplo, que fica com uma quantia simbólica para cobrir despesas da quadra.
Outra que se apresenta pouco fora do Rio é a Imperatriz Leopoldinense, que viu seus convites de se apresentar fora do estado minguarem com o jejum de títulos (o último foi de 2001).
O diretor de carnaval, Wágner Tavares de Araújo, porém, acredita que as oportunidades vão surgir mesmo para escolas consideradas médias ou pequenas.
- A realização da Copa de 2014 no país e dos Jogos e 2016 no Rio atrai a atenção para nossa cultura. A oportunidade para o samba bombar por aí - disse Wágner.
Vencedoras participa até de palestras
Entre as escolas que mais lucram no mercado corporativo está a Unidos da Tijuca, atual campeã do Grupo Especial. Os convites se multiplicam. Em um deles, contratada pela Renault, a escola realizou 126 shows no Salão do Automóvel de São Paulo em 2010.
Também fez eventos para o Bradesco e até palestras para empresários sobre como uma escola de samba é organizada. Nas palestras, a divisão por alas é comparada com as áreas das empresas.
A entrada da Tijuca nesse mercado se deu com a reestruturação do Departamento de Marketing para dar orientação empresarial aos shows. As alas mais requisitadas são ensaiadas constantemente.
Consagrada em 2010, a coreografia da comissão de frente da Unidos da Tijuca é ensaiada até hoje pelos 50 bailarinos, pois, a qualquer momento, 15 deles podem fazer shows
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